sexta-feira, 9 de abril de 2010

Corriqueirismo contemporâneo uma ova

A vida é cheia de folclores, e lá vou eu contar mais um. É uma história que é estória, mas sabemos que essa estória é uma história, em algum lugar.
Havia, um tempo atrás, um moleque espevitado, endiabrado, o famoso 'capeta': o Helder. O Helder era o tipo de guri que ninguém queria nem a prestações, o jovem era tenso, mesmo! Não era de dar sossego pra qualquer pessoa que fosse, seja familiar, professor ou padre, ou qualquer outro tipo de pessoa.
O Helder estudava na sala do Thiago. Aah, o Thiago... o Thiago tinha um óculos fundo de garrafa que denunciava o tipo de gente que ele era: cêdêéfe. Era um coitado. Na época em que as crianças ainda estavam começando a pensar em sair, ficar acordado até mais tarde, meio que um prenúncio de que a pré-adolescência estava às portas, o Thiago, que além de ter óculos fundo de garrafa e ser cêdêéfe, começou a pipocar de espinhas. Quem já teve essa fase sabe quão horrível e triste pra vida de um rapaz isso é. Ainda mais com o Thiago, que era a imagem de como uma garoto não deveria ser pra se dar bem com as garotas.
Garotas. E não é que o Thiago era apaixonado pela garota mais linda da sala, a Gabi? Mais linda, não, né? Mais bonitinha, mais cuti-cuti, mais gracinha da sala. E o Thiago, o do óculos fundo de garrafa e cêdêéfe e espinhudo, era apaixonadíssimo por ela. Perdidamente apaixonado, era até engraçado ver como seus olhos saíam de foco por debaixo dos óculos fundo de garrafa toda a vez que ela ia na frente da sala, recitar poeminhas, falar sobre Ciências, sobre Bonaparte, Dom Pedro, algarismos romanos, tudo, tudo, tudo. E o Thiago apenas contemplava, apenas babava.
E então, o cêdêéfe começou a escrever pequenas trovinhas para a Gabriela, e num desses dias de desatenção total à aula, preso a seu mundinho que girava em torno de sua amada, estava ele escrevendo algo como: ''Gabriela, minha flor/Te dou todo meu amor/Sem você, apenas dor/Com você, apenas '' - e ele nunca conseguiu terminar o poeminha, porque o Helder pegou a folhinha para ler e viu que, acima do poeminha, tinha uma pergunta escrita assim: ''Gabriela, você gosta de MIM? SIM ou não?'' O Helder leu e fez questão de mostrar pra sala toda o sentimento do Thiago, que caiu um desgraça na sala, foi alvo das maiores piadas possíveis, e a Gabriela gritou a plenos pulmões: ''EU?! Com o CÊDÊÉFE FEIOSO E MONSTRENGO? NUUUUUNCA!!!''
Coitado. Thiago mudou de escola, seu pai foi transferido para um lugar distante de sua cidade, e Helder e o resto da patota continuaram por lá. E o Helder foi crescendo, tomando jeito, fez curso técnico e mandou currículo pra uma fabriqueta que havia aberto poucos dias na cidade. Helder passou em quase todas as entrevistas, mas na última, perdeu pra um outro rapaz que tinha faculdade, inglês e espanhol e havia feito um ano de intercâmbio na África do Sul cuidando de pessoas portadoras do HIV. Nunca mais soube do Thiago, e se perguntarem ele nem sabe que conheceu.

O quê? Bom, o final é esse mesmo, não errei não! Isso é pra acabarmos com a idéia de que ''O nerd de hoje é o seu chefe de amanhã.'' O sol nasce pra todos, amigo. Viva e deixe viver, cada um com seus problemas.

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