segunda-feira, 29 de março de 2010

Apenas mais uma anedota...

Havia uma cidade, no interior do Piauí, chamada Salto do Cruz-Credo. Ficava a um sem-número de quilômetros de distância de Teresina, de Belém, de Manaus, de Juazeiro. E de 'Sum Paulo', ishi... Era uma cidade com outra de interior qualquer: tinha a pracinha que os namoradinhos usavam para namorar, tinha pipoqueiro na esquina, tinha Bradesco (e eles não cansam de dizer que o Bradesco tá no Brasil inteiro...), hospital, lojas, igreja. E a igreja é o ponto central da estória.
Porque, na época do 'assucedido', quem era o padre daquela paróquia era o Almir, padre Almir em Salto. Era uma pessoa bacana, um bom papo, fazia uma boa missa, enfim: não havia reclamação clara a se fazer do padre Almir.
O caso é que padre Almir era esperto pra caramba. Liso, como dizem por aqui. E, um dia, estava tendo confissão na paróquia da cidade, e tudo corria bem. Até o momento em que padre Almir começou a passar mal, talvez da feijoada da cantina da dona Dita, onde ele se empanturrou no dia anterior. Padre Almir suava no confessionário, e abriu a portinhola desesperado atrás de alguém para fazer as vezes de ouvinte ali. E, do outro lado da paróquia, passava um jovem seminarista, Wercley, rapaz bondoso, de boa índole e que faria esse favor pro padre...
- Wercleeey! Psiu!! Vem aqui, agoora!
- Sim, padre. Algum problema?
- Puxa vida, ô problema! Acontece que o 'povo aqui' tá doido pra entrar na natação, pra que eu assine a lei áurea, pra brincar no escorregador e cair na água... entendeu?
- Você tá com vontade de cagar, no meio da confissão, padre?
- PSHHHHH!!! Quer falar mais alto? Segura aqui pra mim, um pouco, no confessionário, que eu vou ter que ir ao banheiro, tá complicado...
- Eu, padre? Mas, nunca fiz isso, não sei distribuir penitências nem nada, nem sei o que falar...
- Wercley, presta atenção: lá dentro do confessionário tem um caderninho, com pecados e penitências ao lado. É só você escutar o pecado, e correr atrás da penitência, simples assim. Agora, saia da frente que não tá dando pra segurar mais...
E foi. E lá foi o jovem seminarista segurar a bronca. Wercley não era burro, e conseguiu passar a tarde tranqüila. Se um fiel dizia que havia devolvido o troco que o padeiro deu a mais, Wercley ia no caderninho, e tinha lá: ''Troco não devolvido - para dono ou para cliente'' e as penitências ao lado, se era reincidente, essas coisas. Uma outra fiel disse que tinha beijado a namorada do irmão. E lá ia o Wercley correndo os dedos no caderno, pra encontrar penitências. Foi assim praticamente o dia todo. Praticamente...
No finalzinho da tarde, Wercley começa a ficar preocupado com o padre Almir. Tudo estava correndo muito bem, mas padre Almir não voltava. Eis que aparece, pra se confessar, a Telminha. A Telminha era conhecida não só pelos habitantes da cidade, mas pelos das redondezas. Era linda, espetacular, deixava os homens com os burros n'água, em alguns casos até literalmente! E o Wercley ficou todo bobo, ali dentro, babando, quando a Telminha chegou pra se confessar. E ela havia pecado, sim. Tinha feito uma chupeta no namorado. E o Wercley foi, calmamente, procurando no caderninho. E nada de ele achar a penitência pra chupeta, não havia nem pecado marcado lá, meu Deus, que fazer?! E o desespero foi tanto, que Wercley adaptou aquilo que padre Almir havia feito com ele mais cedo: abriu a porta do confessionário e procurou ajuda, desesperado!
E viu, lá, cuidando do altar, o Filipinho, filho da dona Neusa, coroinha da paróquia. ''Ele deve saber alguma coisa...'', pensou Wercley.
- Psiiu! Filipinho!! Corre aqui!
E Filipinho, meio surpreso, foi ter com o seminarista.
- Que que cê tá fazendo aí, oxi? No confessionário? Padre Almir não vai gostar, não, hômi...
- Longa história, longa história, padre Almir que me deixou aqui, tá passando meio mal. Mas, olha só, tô desesperado e vê se você consegue me ajudar: o que padre Almir dá pra quem faz chupeta?
Depois de muito pensar, Filipinho respondeu, com toda a sinceridade do mundo:
- Aah, ele costuma dar um pastel e uma Coca-Cola, mas ultimamente tem dado suco, diz que é mais saudável...


sexta-feira, 26 de março de 2010

''A dor que ultrapassa a dor...''

Falar de morte não é fácil. É falar de algo que tratamos, a maioria, como algo maldito, algo que vêm para simplesmente acabar com todos nós, com amigos, com qualquer um que se diz próximo de alguém que, supostamente, se foi.
Penso que não exista pessoa boa que se vá, totalmente. Acho que as pessoas boas, de certa forma, sempre ficam, seja no legado emocional, no físico, de alguma forma. Lembrar é um jeito simples de se achegar a quem se ama e não tem mais ao lado, pelo menos não fisicamente. A vida é sacaninha, mesmo, concordo! Mas, é terrível pensar que as pessoas simplesmente 'se vão', principalmente as pessoas boas.
Me recordo de, em certa altura da vida, conversando com um amigo, começamos a lembrar de um outro rapaz, jovem, forte, lindo e com uma vida espetacular pela frente, que havia morrido assim, do nada, como num piscar de olhos. E, ele me disse que, um dia antes, havia sonhado com o rapaz, e ele dizia para seus pais que não ficassem preocupados, que estava tudo bem, o céu era maravilhoso e a Virgem Maria era linda. Bom, eu me arrepio sempre que penso nisso. Tudo depende de onde você vê, a vida surpreende, é complicado! Não dá pra dizer que, mesmo sendo ateu, você não se arrepia ao saber disso.
A morte talvez seja o início, não o fim. Infelizmente, sou capaz de apostar a minha vida, tendo certeza de que ninguém nunca vai desvendar o maior segredo que temos: o que acontece depois que fechamos nossos olhos e ficamos à mercê do descanso eterno. Deixaremos pessoas, deixaremos vidas, famílias, amigos, todos nós deixaremos ''alguéns'' por aqui, e descobriremos o que significa morrer. Não deve ser pior do que esse inferno o qual moramos, hoje. "Para morrer, basta estar vivo.'' Já que é pra viver, então viva intensamente, respeite, ame, sorria, faça rir, transmita a paz, cuide dos outros e de si mesmo. No final, você será lembrado para sempre, porque sabemos: as pessoas boas nunca morrem, nunca nos deixam, e sempre serão lembradas...

''A dor que ultrapassa a dor...''

Li essa frase por aí, em algum lugar, e não me lembro onde. Pode se referir a muitas coisas, mas neste meu pequeno texto, se referirá unica e exclusivamente à morte, essa destruidora de vidas, de sonhos, ou criadora de novas vidas, de novos sonhos, por que não? Enquanto formos vivos, nunca saberemos ao certo o que fazer, como fazer ou se há o que fazer, quando estivermos do outro lado do véu. Mas, o importante, sempre, é termos a esperança de que tudo dará certo, ou aqui, ou num outro plano de vida, seja qual for a sua crença, não é isso que discutirei aqui.
Essa semana me foi meio tenebrosa: muitas discussões sobre morte; lembranças da morte de um amigo que estava, como eu, começando a vida; o medo de minha mãe de perder meu pai, e sua explicação de que o sentimento de medo que ela sentia é diferente do meu; e a morte de mais um próximo. Tudo na mesma semana... e meu cérebro começou a trabalhar freneticamente, devaneando coisas que iam do conformismo ao absurdo, tudo com sua dose de razão.
Acontece que, desde que me entendo gente, não sou um cara muito bom para delegacia, hospital e velório. Acaba com minha alegria, meu dia, seja pro que for. Certa vez, fui na delegacia apenas para pegar minha autorização e poder fazer minha prova para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação. Sério, a nhaca da delegacia ficou comigo o resto do dia. E nem vou ficar aqui explanando sobre minhas peripécias em hospitais... E o que me mata (?) em velório é o fato de que me sinto completamente impotente, sem poder ajudar, sem poder fazer sorrir. Pois sou uma pessoa que gosta de rir, de fazer rir, contar piadas, deixar o clima mais leve, estar num clima leve, e num velório (diferente até da delegacia ou do hospital, por exemplo), não existe coisa mais chata que você estar sofrendo por alguém querido ali, e do outro lado da sala um babaca rindo de tudo, seja do café que parece chá, do wafer que assobia na sua boca, de tão mole, e coisas desse tipo. Confesso que costumo ser desses babacas, e por isso evito velórios, pois tenho um mínimo de respeito pelas pessoas, familiares e amigos, que ali se encontram.
Um dia, saberemos o significado de tudo isso, entenderemos o porque de todo esse sofrimento, olharemos uns para os outros e perguntaremos: ''Nossa! Porque não pensei nisso antes?''
Pra terminar, o provérbio mais frio, horrível e sincero que conheço:
''Para morrer, basta estar vivo.''

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Carteiro e o Poeta

''O Carteiro e o Poeta'' é um filme muito bonitinho e bem feito, de 1994, adaptado da ficção do escritor Antonio Skármeta (Ardiente Paciencia), que conta a estória da amizade que se cria entre um dos gênios da literatura mundial, o poeta chileno Pablo Neruda, e Mario Ruopollo, o carteiro semi-analfabeto que foi contratado para, especialmente, entregar suas cartas durante seu exílio na Itália. O carteiro, que conhece uma bela jovem no povoado, pede para Neruda ensiná-lo a escrever poesia. Neruda, em contrapartida, ganha um ouvinte para poder descrever suas agruras e saudades de sua terra mãe, Chile.
O filme foi filmado na Itália, e o lugar é paradisíaco: um mar calmo, belas montanhas, aquele clima de cidadezinha do interior onde a vida passa mais devagar, as pessoas muito simples, agradáveis, que te fazem bem. Coisas interessantes a salientar sobre o filme: o ator Phillipe Noiret, que interpreta Pablo Neruda, é extremamente parecido com o poeta chileno, que dá até medo! E o ator foi dublado, já que não sabia falar nem espanhol nem italiano (pode?!). Massimo Troisi, um dos que adaptaram o roteiro para o filme, fez o protagonista Mario Ruopollo, e foi celebrado pela crítica pela beleza, simplicidade e carisma que deu ao carteiro, trazendo-o para a realidade. É impossível não se apaixonar pelo Mario Ruopollo de Troisi. Coincidência ou não, Troisi tinha adiado uma cirurgia no coração para poder completar o filme, e um dia após o término das filmagens, ele sofre um ataque cardíaco fatal e morre. Recebeu uma indicação póstuma ao Oscar daquele ano, que rendeu muita comoção. O Carteiro e o Poeta vale a pena, alugue e assista, é muito bom!
Enfim, falei tudo isso pra chegar ao ponto, uma história verídica contada por este escriba: eis que, na faculdade, nosso professor nos passou esse filme, e, no outro dia, passou um exercício de interpretação sobre a película. Essa semana, ele chegou desolado na faculdade, e não entendíamos o porque, quando começou a falar que o exercício de criatividade que havia proposto tinha ganhado respostas ''de outro mundo''! O exercício era o seguinte: usando a critividade, era pra darmos um novo nome ao filme. Saíram coisas como: ''Neruda no País das Maravilhas'', ''O Poeta que Entregava Cartas'', ''As Cartas do Poeta''...
- Mas o mais impressionante que eu li foi ''Sedex Poético''... - desolado, o professor pôs-se a rir da própria situação.
Não dá pra ele não dizer que, no mínimo, foi criativo... Sedex Poético...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Na minha meninice, o Bito era o maioral

Quando eu tinha lá meus 12, 13, até 14 anos, época em que jogar futebol, bater figurinhas e pular na casa do 'seu' Zé pra pegar pipa era normal, tinha um rapaz na minha rua que era o maioral, o ídolo: o Bito! A gente não sabia porque que Bito era seu apelido, já que, algum tempo depois de conhecê-lo, fomos descobrir que seu nome era Paulo Sérgio. Mas, descobrir origem e significado de apelidos às vezes pode ser mais difícil do que entender Bíblia, político ou jogador de futebol, por isso deixemos pra lá.
O Bito era um mito! A gente era molequinho, o Bito era homem: contava histórias de terror as quais ele já havia vivido, dizia sobre os campeonatos de futebol que tinha disputado por esse mundão (e que nos deixava otimistas, já que o Bito era um jogador de futebol que beirava o ridículo, 'mas ninguém é perfeito', costumava dizer), que já conversara com Papai Noel, que já tinha beijado na boca usando a língua, que já tinha visto mulher pelada sem ser em revista roubada do pai ou do irmão mais velho. O Bito tinha uns 20 e poucos quando eu ainda tinha 13, e era compreensível nossa veneração, afinal ele só trazia pra gente coisa nova, coisa que não havíamos vivído!
Eis que a situação começou a piorar, e o Bito começou a fumar. Meus pais e os pais dos outros amiguinhos, claro, começaram a ficar atentos com o Bito - o Bito enganava a gente, não a nossos pais. No começo, o Bito só chegava com marola, fedia barbaridade, e dava risada de nós todos, mesmo quando o Marcelinho contava piada, e o Marcelinho era péssimo contando piada. O Bito começou a dar preju na casa dos outros, porque a compra do mês de ninguém dava mais conta, já que o Bito acabava com tudo, comia, comia e comia, e sempre queria mais, teve dia que até dona Maria, mãe do Gegel botou ele pra correr, gritando 'marginal! marginal!'. A gente, claro, só foi entender anos depois...
Um dia, a polícia baixou na rua, a gente (os sub-14) não tava entendendo nada, e o Bito tentou sair correndo. Tomou uma latada no vão das pernas - foi até bonito de ver - e tombou, gostoso, na frente da minha casa. Os polícia veio pra cima dele, seguraram e algemaram, e a gente não tava entendendo nada. Um dos polícia pergunta pro Bito se ele achava bonito se meter com aquelas coisas, e o Bito lançou uma que jamais esqueci:
- Senhor, como diria o mestre, se Leonardo Da Vinci, porque é que eu não posso dar dois? - tomou um cascudo cinematográfico e entrou na viatura.
Anos mais tarde, quando fui entender de onde ele tirou essa frase e o porque de usar por ali, me peguei sorrindo. É, o Bito era um gênio.

terça-feira, 9 de março de 2010

Ninguém sabia que o Nelson...

O Nelson era daquele tipo de pessoa que não tinha amigos: tinha colegas. Ninguém sabia que o Nelson não tinha amigos, todo mundo pensava que era amigo do Nelson. Na repartição, ninguém sabia que o Nelson era um excelente enxadrista, torcia pra Ponte (mesmo não sendo campineiro), estava casado com a Soninha havia 24 anos (recém-completados) e que seu sonho era uma Harley. Na repartição, a gente não sabia absolutamente nada sobre o Nelson. Absolutamente nada é muito: a gente sabia pouco sobre o Nelson.
A gente sabia que a Soninha do Nelson é uma mulher dessas de ninguém enxergar defeito. Ninguém sabia que o Nelson tinha a capacidade pra ter um avião daqueles no seu hangar, uma Ferrari como ela no seu paddock, uma bike com aquela estirpe em sua ciclovia, e por aí vai! A Soninha é daquelas que você diria sim ao padre antes de ele pensar em começar a cerimônia. A Soninha é um monumento de dar inveja, e a gente tinha inveja do Nelson. Muita, mas disso o Nelson quem não sabia!
Outra coisa que a gente sabia do Nelson era que ele adorava um carteado, um buraquinho, um pôquer, até mau-mau quando ele estivesse meio 'mau-maudo' - trocadilho com mamado, bêbado: ninguém sabia que o Nelson falava isso quando estava bêbado. E, como ele não tinha amigos, acabava nos convidando, já que ele gostava de uma apostinha. E, assim, todas as quintas-feiras, todos nós (Julio, Manoel, Andrezinho, Galego e eu) íamos à casa do Nelson apostar um baralhinho pra desestressar. E, mesmo semanalmente, ninguém sabia praticamente nada da vida do Nelson, pois não nos falava mais nada a não ser sobre baralho e o Paulistão e sua Macaca.
Num desses dias de baralho, chegamos mais cedo na casa do Nelson, e, antes de apertarmos a campainha, escutamos uma briga entre a Soninha e o Nelson, lá dentro! Quebra-pau desses de colocar 'Gigantes do Ringue' no bolso: panela voava, e cadeiras, e palavrão comendo solto, só se escutava a Soninha berrando e o Nelson nem ouvíamos. Resolvemos, sabiamente, ir embora. Não ia haver clima pra roubar o Nelson naquela noite.
No outro dia, chegamos para trabalhar na repartição, a nada de o Nelson aparecer. Até que, umas 3 horas após o horário que ele deveria ter chegado, nosso chefe, o Afonsinho, recebe uma ligação do Nelson, avisando que sua mulher havia morrido por conta de um troço na cabeça, que o Afonsinho não soube explicar. Deu 5 dias de folga pro Nelson.
Até que, depois da folga, o Nelson apareceu para trabalhar, e todo mundo foi abraçar o Nelson, apresentar condolências, aquela praxe. E o Nelson chega pra gente, os companheiros de carteado, para avisar que na próxima quinta ia ter, que íamos devolver o prejuízo de não termos aparecido na anterior pro jogo.
Então, o Julio perguntou:
- E aí, Nelson. E a Soninha?
- Um pouco nervosa, só - respondeu, calmamente, ele.
Todos ficamos perplexos, afinal!
- Mas, a Soninha não morreu? De um troço na cabeça?! - indagou Manoel.
- Não, a Soninha foi quem matou! Quem morreu foi a Laurinda, levou uma golpeada na cabeça, da Soninha, com um dos meus tacos de golfe. Foi feio...
Pois é. Na repartição, ninguém sabia que o Nelson tinha tacos de golfe...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Síndrome da Melhor Idade

Há tempos, venho notado uma mudança particular em meu velho, que é particular em quem é velho!: o desbocamento, se é que existe essa palavra (se não existe, vai como neologismo, mesmo). Não é maldade! Simplesmente dá nas pessoas que chegam a certa idade x, elas meio que perdem a noção e falam o que querem, pra quem for, sem necessidade de uma hora especial para isso. Afinal, pra se dizer o que não deve, qualquer hora é hora!
Acho que ele aprendeu isso com a nossa família. Sua mãe - minha avó -, mesmo, é rainha em lançar 'pérolas', frases que guardaremos pro restante de nossas vidas, dessas com efeito. Como, por exemplo, em certo casamento, vovó inventa de dizer à noiva que 'o dote deve ter sido generoso, porque o rapaz é mais feio que a fome'. Só para a situação ficar um pouco mais chata, o noivo estava sendo congratulado justamente às costas da minha querida vovó.
Ou mesmo com meu avô, seu sogro, que, sem medo de caretas ou reprovações, lança piadinhas como a do Pedro Bosta (exatamente: Pedro Bosta!) em pleno almoço de domingo. Na hora em que todos estão comendo. Já vovó materna comprou briga com sua rua inteira, fez as pazes, brigou de novo, acho que fez as pazes de novo... enfim, por não medir as consequências de suas palavras. Sem dó nem piedade, ataca qualquer um, e termina com um sonoro: 'Falo mesmo! Não sou baú...' Tudo sem maldade: sinceridade, mesmo que em excesso!
Ficávamos discutindo, depois dessas, o porque de os senhorezinhos serem assim, tão 'sinceros', beirando a maldade pura e simples. Chegou-se a conclusão de que, já que estão velhos e próximos de começar a comer capim pela raiz, querem deixar tudo bem explicado, nada dito pelo não dito. E meu pai parece que tá entrando nesta fase, e a 'inexperiência' pesa até nisso...
Foi há alguns anos. Uma velha amiga da família perdeu o marido. Graças a Deus, no velório e enterro meu progenitor teve tato e não lançou nenhum impropério. Talvez estivesse aguardando uma hora mais propícia, e chegou em forma de presente no Natal daquele mesmo ano. Resolvemos visitá-la, como sempre fazíamos. Ao chegarmos, antes mesmo dos abraços, meu pai, não se aguentando mais, vira e tasca: 'Ê Teresa! Primeiro Natal sem o Marcelo, hein?!'
Se não podia, já foi...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Insubstituível

''Por ter passado grande parte da minha vida compondo músicas que mostrassem sentimentos (e que, muitas vezes, nem eram meus), às vezes sinto grande dificuldade em escrever sobre os meus, mesmo. Mas, de repente, resolvi falar, nessa linguagem que me é tão libertadora, a escrita. Quem me vê nos últimos cinco meses, sabe o quanto tudo o que sair, aqui, é sincero.
Coração de quem ama é engraçadinho, ou acha engraçado dar uma de engraçadinho. Por algumas poucas - ou muitas, tudo é relativo - mulheres passei, vários sentimentos provei, mas nunca tive tanto medo de perder alguém como tenho medo de perder você, meu amor. Rio da minha própria sorte, de ter você para dividir meus planos, nossos planos, nossas conquistas. Sinto pena de quem não tem alguém para amar, assim. Sinto pena de quem não ama, assim. Mas, tenho medos... tenho medo de chegar uma hora e o encanto acabar, simplesmente. Em alguns momentos, chego a pensar que não mereço alguém tão perfeita quanto você. Me pergunto o porque de Deus ter se dado ao luxo de se 'desfazer' - por assim dizer - do anjo mais lindo que o céu tinha para apreciar, pura e simplesmente para a minha exclusiva felicidade! Sim, porque eu sou o homem mais feliz do mundo, hoje, com você, princesa minha. Nada consegue tapar, tirar, arrancar de mim o receio que abocanha sem dó meus rompantes de felicidade: pensar que, um dia, você poderá olhar pra mim e sentirá que a graça se perdeu, não há mais sentido, você e eu. Me prometa, olhando nos meus olhos, que nunca vai desistir de mim, de nós, que tudo vai ser para sempre, como os diamantes. Mas, minha maior dor é saber que nada é para sempre - mas, isso é em relação a morte, essa fada às avessas que nos acompanha, lado a lado. A propósito, se você morresse amanhã, queria eu morrer hoje, pois não gostaria de passar um segundo sequer com a certeza de que nunca mais teria o seu amor. Mata-me, mas não se desfaça de mim.
Hoje, me sinto como um ladrão que roubou uma instituição poderosíssima qualquer: com o maior tesouro do mundo, com o perigo de perdê-lo a qualquer instante. Mas, permita-me pensar isso tudo como uma novela 'manequiana': tudo dará errado, do começo à quase o final. Sim, porque, no final, você e eu seremos feliz para sempre.''

Ps 1: Exercício da aula de 'Comunicação e Expressão', na faculdade, me desculpem a falta de criatividade.
Ps2: o amor é lindo, né? fala sério :D

segunda-feira, 1 de março de 2010

Uma aula de juventude, hoje em dia!

Cláudio e Ana, entre 15 e 17, eram amigos inseparáveis, desses que a gente não vê mais hoje em dia, pelo menos não de sexos opostos (aliás, têm tantos sexos opostos hoje em dia que você nem sabe mais quem é oposto ao seu, quem gosta da mesma fruta que você, quem chupa o mesmo caroço que o seu, ou até mais do que isso). Era uma amizade linda, faziam de tudo juntos: barzinhos, restaurantes, pizzaria, viagens à praia, futebol, vôlei, até futevôlei, era uma bela amizade... eis que apareceu o Gláuber.
O Gláuber era o típico galã da nossa sociedade na cabeça de uma garota de 17: alto, marombado, olhos claros, cabelos loiros estrategicamente caindo nos olhos, surfista, fazia medicina, gostava de uma birita, tinha um belíssimo conversível e tinha 20 anos. Há de se salientar, aqui, que esse é o tipo de homem de 9 entre 10 mulheres, de 15, 17 ou 47, não importa. E a coitada da Ana, obviamente, se apaixonou perdidamente pelo 'Adonis'; e o coitado do Cláudio começou a ser deixado de lado.
No começo, até que foi fácil: ela só falava do rapaz, Cláudio só ouvia, dava sua opinião ('metia o pau' no rapaz, evidentemente), eles discutiam, virava uma dialética sem fim, e Aninha começou a emburrar, e entender. Cláudio começou a perceber que ela tava entendendo, e começou a dar de louco, agir com evasivas e tudo mais. Todos os dias, quando ela começava a falar do Gláuber, ele fazia cara de sonso, respondia com monossílabos e começava a falar das músicas da Pink e do Elton John, do clipe da Shakira com o Nadal, da roupa horrorosa que a Beyoncé usou no último VMA, e discursava sobre qualquer outra coisa que não o Gláuber (Aninha o irritava chamando o Gláuber de 'Gáu' - sim, já tinha apelido).
Até que, um dia, Aninha disse que Gáu tinha a adicionado no Orkut. Pronto! Aí, foi que o Cláudio emburrou mesmo, não quis saber da amiga o resto do dia, se debulhou em lágrimas em casa, pôs Fresno no último volume, se entupiu de chocolate, não quis mãe nem pai, só quis saber do seu pônei de pelúcia, e não respondeu nenhuma questão no formspring - a propósito, ficou com raiva do formspring, só havia perguntas do tipo: 'Quando você está sofrendo, qual música te satisfaz?'; 'Chocolate é bom pra te aliviar?'; 'Você mora perto do mercadinho do Joca?'.
Passados alguns dias sem conversar com Aninha, Cláudio olha para amiga e percebe que ela está chorando de se acabar, com mais olheiras que Tropeço quando fazia jornada dupla. Bateu-lhe o conhecidíssimo arrependimento, e foi ter com a (apesar de tudo) amiga. Quando Ana o vê, começa a chorar com mais intensidade, e aí quem entendeu foi Cláudio! Animado a ir confirmar suas expectativas, começa a conversar com Aninha, e ela confessa que adicionou Gláuber (não era mais Gáu) no MSN, conversaram durante muitos dias, mas ele não expressava nada e ela não queria se expôr demais, ir pra cima do rapaz. Até que, na conversa derradeira, ela confessou que estava apaixonada pelo rapaz e queria saber o que ele achava dela, da situação, afinal eles vinham se dando bem, conversando e tudo mais. Surpreendentemente, Gláuber respondeu que achava Aninha linda e tudo mais, mas que ele não gostava de mulher, se ela entendia o que ele quis dizer e se entendia o lado dele. É claro que ela disse que entendia, mas o mundo acabou, né? Aquele pedaço de mau caminho, aquela delícia, aquela escultura esculpida em Carrara, não podia ser possível. Cláudio, como bom amigo que sempre foi, ouviu tudo atentamente, disse que as coisas eram assim, nem tudo era perfeito, que ela ainda ia encontrar o príncipe certo da vida dela e tudo! E completou pedindo desculpas, dizendo que o fato de eles terem ficado sem se falar foi uma grande bobeira, que ele a amava e não fazia sentido eles ficarem longe um do outro. Se desculparam e conversaram normalmente, como sempre.
O diabo é que ela foi puxar sardinha pro Cláudio e dizer que ele também merecia a princesa dele, e ele, de bate-pronto, disse 'Príncipe Gáu, minha filha!'.

A chuva cai, e a gente vai tentando desviar!

Tá, eu não gosto de chuva. Sério, odeio chuva, é impressionante como me faz mal acordar e sentir que, lá fora, desaba o mundo (porque, pra mim, até garoa é sinal de que o mundo está desabando!). Já quase perdi amizades importantes por meus discursos de apologia ao sol, ao tempo sempre quente, melhor estilo Califórnia Fever! Um dos meus melhores amigos, por exemplo, já ficou um tempo sem me dirigir palavra alguma por causa de ferrenhas palavras de desaprovação a essa coisa horrível que demos o nome de chuva, rain pra alguns, lluvia à outros. Não a desgosto cem por cento do meu tempo, é claro! Chuva, às vezes, é legal. Às vezes, muito raramente, por sinal. Imagine a seguinte situação: um rapaz recebe seu suado soldo, depois de um mês de luta e trabalho árduo, e convida uma linda jovem, a qual está estrombolicamente apaixonado, pra tomar um chope. Bom, quem espera um mês de luta pra convidar uma singela jovem dona de seu coração pra tomar um chope, provavelmente não tem um carro. Se começa a chover, que acontece? Simples, o rapaz liga desmarcando, meu caro. Ou, então, eles poderiam sair pra tomar um chope e ganhariam roupas molhadas e uma gripezinha de brinde! Legal, não? Pois eu não acho. Partindo deste meu singelo exemplo, penso que muitas histórias de amor tiveram seu final com surpresas por causa deste bendito efeito climático chamado de chuva. Se essa história se confirma ou confirmou em algumas oportunidades (e tenho quase certeza que sim!), continuem devaneando sobre finais possíveis: em um, ela poderia simplesmente amaldiçoar a chuva, porque estava louca pra dar uns beijinhos e esteve esperando a semana inteira pra sair com o gatinho; em outra, ela poderia simplesmente pedir carona ao pai ou irmão ou mãe ou irmã ou alguém de sua casa que fosse habilitado, buscava ela mesma o gatinho, e os dois saíam felizes pra tomar o chope; em mais outra, ela poderia ser habilitada e... enfim!; ou, ela poderia, mais simplesmente ainda (porque isso acontece com mais frequencia, vejo eu), ligar pra um conhecido playboy companhia de sempre, tem um carrão último tipo que papai acabou de comprar, vão os dois para um dos barzinhos mais caros da cidade (jovem não vai em restaurante, a não ser com os pais) e começam a ter algo mais sério naquela noite, começam a namorar, se conhecem mais ainda e percebem que deveriam ter percebido aquilo antes, se casam e são felizes, menos o jovem trabalhador do comecinho da história.
Aaah, quer saber como ele terminou? Meu chapa, o foco aqui é que odeio chuva, e não quem ficou com quem ou quem ficou com o dedo! Está frustrado? Pois bem, a chuva me frustra! Pense você pra um final bem canalha pro coitado do rapaz, que, neste momento, deve estar amaldiçoando a chuva no caminho - a pé e de 'sombrinha' - do trabalho!

post scriptum: sim, hoje está chovendo e estou a beira da um colapso, já que tenho que fazer uns exercícios de Cálculo I por aqui!