sábado, 31 de julho de 2010

Soneto da Desilusão

''Pra que sorrir, oh! vida ingrata?
Se tudo, em nós, se apequena.
Trabalhas sempre, e pra sempre penas;
se algo entra, outro empata.

Fazer-me-ia um homem melhor
se pudesses tu me agigantar.
Pois se pra sorrir, há dantes chorar
e não aguento, me sinto pior.

Mesmo quando mais inconsolável for,
prometa-me carinho jamais dado.
Permita-me que morra de amor.

Pois sabes o quão castigado estou,
outorgado do prazer que me foi confiado.
Flagelo de vida! Em baixa, me vou''


terça-feira, 13 de julho de 2010

Hoje, acordou e nem o sol resolveu sorrir pra ele. Claro, querias. Obviamente, nada seria a mesma coisa, onde estava com a cabeça quando imaginou que tudo seria igual? Se nada mais te faz rir ou chorar, é tudo o igual, tudo paradoxal, é tudo a mesma coisa e não. Aglutinados, sentimentos desesperados, singelos e complexos caminham de mãos dadas em sua cabeça, e seu dia nem havia começado.
Relógio marca 8h45. Uma pensada rápida fez decidir: não iria trabalhar hoje. Afinal, não era mesmo um dia normal, feliz, então por que deveria se estressar? Pensou em coisas simples e palpáveis, cigarros e um 12 anos, só para passar a manhã, pelo menos. Depois do almoço, pensaria melhor no que fazer do resto de seu dia. E saiu, de pijamas mesmo, maltrapilho e com rumo definido: a primeira padoca que encontrasse, e o destino que lhe arrumasse um outro destino adelante.
Nem foi de moto pra ter mais tempo de pensar nas coisas que se sucederam neste fim de semana. Quanta coisa sem pé nem cabeça, e não havia nem sido sensivel. Pensou nas palavras que disse, nas que queria dizer e que ele mesmo havia atropelado. Deveras ignorante, grosseiro e tosco, tudo na mesmíssima proporção, tudo feito com maestria, e nem pra perceber o que estava fazendo. Ele apenas fez - talvez sem querer, infantilmente - e colheu os louros de tudo, por todos. Com uma carteira e um isqueiro na mão, um copo de whisky na outra, começou a se lembrar de cada passo em falso que deu, sem perceber que estava enforcando a si mesmo. Se a amava tanto assim, porque este rompante de Augusto Matraga? Justo ele, que sempre fora tão sensível aos sentimentos alheios, não conseguiu se segurar com a pessoa a qual ele mais ama na vida, a mais importante? E começou a pensar nos porquês...
Passadas quase 5 horas, o dono da padaria lhe perguntou se os 5 copos e as 2 carteiras já não eram o suficiente. Óbvio que só queria saber se o jovem o pagaria, e foi isso que o jovem fez. Com ressalvas: que lhe desse mais um copo e outra carteira, pra poder pensar mais um pouco. Não chegou à conclusão alguma, somente entendeu que fez burradas suficientes pra uma vida inteira, e que se ela o perdoasse - nem ele se perdoou totalmente -, juraria que, dali pra frente, as coisas mudariam pra melhor. ''O que quero da vida, afinal?'' - ele se perguntava, e somente o rosto angelical, belo e colossal de sua amada lhe vinha em mente. Antes de sair de casa, ele já sabia o que faria.
- Outro copo e outra carteira, portuga! - Afinal, já que sentia nojo de si mesmo de tal maneira, era melhor que estivesse bêbado pra aguentar as agruras do seu coração.



''O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.'' Fernando Pessoa