quinta-feira, 6 de maio de 2010

Resenha - Tempos Modernos

CHAPLIN, Charles. Modern Times – Tempos Modernos. EUA: P&B, 1986. 87min.

Charlie Chaplin foi, sem sombra de dúvidas, soberano em sua época, e tão soberando que ultrapassou os limites de sua existência, permeando até os dias de hoje seu arcabouço entre todos os amantes do bom cinema, da boa comédia, enfim: da arte como deve ser. Portanto, seria fácil fazer qualquer comentário que fosse sobre essa personalidade, mas fica também com uma aparência menor todo o tipo de elogio que tecemos a esse gigante das artes da história.

Tempos Modernos (''Modern Times'') pode ser visto como seu filme mais influente, até os dias de hoje. Objeto de estudo em faculdades, no Ensino Médio e às vezes até no Ensino Fundamental, Tempos Modernos explica (claro que satiricamente) as mudanças que ocorreram na Europa – no caso, na Inglaterra – após a Revolução Industrial. Fábricas, fabriquetas, poluição, aumento da violência, greves, fome, desigualdade, tudo mais latente num cenário novo para as pessoas, retratados com muito bom humor e inteligência por Carlitos, que 'canoniza' sua maior criação, 'O Vagabundo' ('The Tramp): o andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro (gentleman), usando um fraque preto esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e - sua marca pessoal - um pequeno bigode-de-broxa.

Nesse filme, Carlitos tenta mostrar o efeito que a modernização traz para as pessoas. A busca incessante pelo lucro, criticada de forma irônica por Carlitos, onde mostra que o operário acaba fazendo movimentos repetitivos sem entender o que está fazendo, ou quando está no banheiro acendendo um cigarro, depois de ter acabado de sair pro almoço, e seu chefe aparece numa grande tela, gritando ''Hey! Go back to work!'' (''Ei! Volte ao trabalho!'') Ou seja, o 'tempo é dinheiro' em sua forma mais arcaica.

Ao final de sua 'estadia' no hospício, local onde foi levado depois de ter um colapso nervoso, volta para a cidade e descobre que sua antiga fábrica está fechada. Nesse tempo, surge na história a mocinha do filme, uma jovem órfã de mãe, com um pai desempregado e com duas irmãs pequenas, que faz com que ela tenha que realizar pequenos furtos para sobreviver. Seu pai morre, e agentes do governo vão buscá-las para a adoção, mas ela consegue fugir.

Enquanto isso, Carlitos é só azar, e acaba sendo preso como líder de uma greve de trabalhadores. Uma das partes que mais chamam nossa atenção acontece nesta fase: Carlitos, na prisão, recebe um belo tratamento, e quando é liberado, resolve que deve fazer de tudo para continuar preso. A grande sacada do filme talvez esteja aí: o progresso tecnologico fez com que o homem sentisse falta de certos prazeres, como o simples fato de ter um tempo ocioso, coisa que ele, como trabalhador de fábrica que tinha de ser incansável e imparável, não tinha. Quando vê a mocinha que fugiu da adoção roubar um pão para comer, decide se entregar no seu lugar. Seu plano vai por água abaixo quando uma senhora testemunha que o assalto foi feito pela mocinha. Depois disso, apenas confusão: cria-se, entre os dois, uma bela amizade, que não se converte em comida, e os dois caem na real e entendem que precisam trabalhar. Ele arruma emprego numa fábrica, mas logo há outra greve e é preso por, acidentalmente, acertar uma pedra na cabeça de um policial. Mais à frente, a mocinha arruma emprego de dançarina em um salão de música e o emprega como garçom. Obviamente, deu tudo errado e lá vão os dois, caindo na estrada, procurando mais confusões.

Tempos Modernos é um filme que dá para ser visto de muitas formas: é ironico, é belo, é inteligente, é leve, é didático. Chaplin nos mostra, neste filme, o que um gênio faz do substantivo 'entretenimento'. Tempos Modernos, em qualquer época (seja ela moderna ou não), é uma bela pedida. Um retrato muito bem feito de como as pessoas já sofreram mais contra o lucro desenfreado e sem pensar nas pessoas.



- Semana que vem provavelmente posto uma resenha sobre 'Tudo Sobre Minha Mãe', Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Globo de Ouro de Melhor Filme em 1999, de Pedro Almodóvar (mais um monstro!)

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